sexta-feira, 13 de março de 2015

Carta ao meu filho...

Por que eu votei na Dilma?

Não sou muito politizada, infelizmente! Isso é um grande e grave erro da maioria dos brasileiros...visto que, como dizem: “se você não gosta de política, vai acabar sendo governado por quem gosta”! No entanto, me considero uma boa observadora!
Frequentei faculdades e universidades em três momentos da minha vida, inclusive, o momento atual. No primeiro momento, entrei em 1993, no governo de Itamar Franco. A UFPE era um lugar quase esquecido. Só entrava lá filhos de classes mais privilegiadas (não havia sistema de cotas ainda!). Para alguém digamos ‘pobre’ entrar lá, era preciso um esforço quase sobre-humano. Ou então, eram aqueles geniozinhos que existem por aí e que mesmo em condições contrárias e desfavoráveis conseguem nadar contra a correnteza (são poucos os que têm esse perfil!) 
Com isso, quero dizer que a classe social nas universidades estava solidificada e bem demarcada. Era classe média, média alta (não sei onde os filhos dos ricões estudam, acho que em Harvard!) e ponto final. Meus colegas eram como eu. Se via um ou outro mais ‘pobrezinho’, mas era algo que não chegava a incomodar (os que se sentem incomodados). Estudava Letras.
Ao mesmo tempo, estudei também na Universidade Católica de Pernambuco, Jornalismo. A Unicap é uma instituição privada e a mensalidade era das mais caras de Recife. Realmente, só quem podia pagar estudava lá. Os pouquíssimos alunos de situação econômica inferior só estudavam lá se conseguissem uma bolsa de estudos. Algo raro e difícil de acontecer. Mais uma vez, só classe média, média alta. Estudei porque meus pais podiam pagar.
Acabei não me formando na época em nenhum dos cursos. Voltei à universidade depois do seu nascimento, em 2001. Estudei Artes Cênicas na UFPE. Enfrentei duas longas greves. Bem no governo de FHC. Na metade do curso, Lula assumiu seu primeiro mandato. Eu vi mudanças na universidade. Vi novos prédios, reformas, e até o elevador do Centro de Artes e Comunicação, começou a funcionar. (Havia esse projeto de acessibilidade, já que no Centro só tem escadas!) Finalmente me formei em 2006. Pleno mandato de Lula. No mesmo ano fiz concurso para a Secretaria de Educação do Distrito Federal. (Muitos concursos passaram a abrir)
Voltei à uma universidade em 2012. Mandato de Dilma. Inclusive, entrei em um curso que antes não existia. Cursos tecnológicos começaram a aparecer no mandato de Lula. Designer gráfico, web designer, gastronomia, moda, designer de interiores, entre outros. O UNICEUB, centro de ensino universitário em que estudo Gastronomia, está cheio de alunos do FIES e de outras ajudas governamentais. Eu vejo alunos de todas as classes sociais, ou pelo menos, não vejo apenas os de classe média, média alta, como eu via em tempos atrás. Na minha turma, mais de 50% dos alunos estão estudando graças à esses planos de inclusão nas universidades privadas. Não estudo em universidade pública mais, mas sei que ela também está abarrotada de pessoas de ‘baixa renda’.
Assim como você, sempre fui uma privilegiada! Brasília é uma ilha da fantasia! Não corresponde em nada ao que acontece na maior parte do território brasileiro! Cresci aqui, em uma cidade que possui nitidamente uma divisão entre o plano piloto (lugar da classe média alta) e do ‘entorno’ (lugar onde os ‘pobres’ moravam anteriormente! Agora isso já está mudando!) mas na verdade, o plano piloto insiste em manter esse afastamento do restante do ‘mundo’, ou pelo menos, do mundo do entorno!
Você estuda em uma faculdade particular porque tem quem pague. Meus pais, seus avós, tiveram e ainda têm condições financeiras favoráveis e privilegiadas! E repito, isso não representa a maioria da população.
Na época das eleições alunos meus me perguntaram em quem eu votaria. Não respondi. Primeiro porque são crianças ainda sem muita consciência crítica e segundo, não tenho o direito de influenciar desta forma. Usando o meu papel e hierarquia para implantar MEUS conceitos e MINHAS opiniões. Mas para um aluno eu respondi. E ele, meio que horrorizado-decepcionado disse: que paia, professora! (paia é tipo ‘nada a ver’) E eu explique e falei que era também pensando em alunos como ele (que em outro tempo não tinham oportunidade de entrar em uma faculdade, muito menos, pública) que eu estava votando. Sim, porque em um breve passado, os alunos de escola pública já sabiam que seus estudos terminariam no ensino médio (os que chegavam lá, hoje é obrigatório concluir o ensino médio!)
Peço apenas que você observe! Observe as coisas ao seu redor! As pessoas, os lugares. Como dizem também: “o mundo não se resume ao nosso quintal!” Fomos e somos ainda uma família muito privilegiada! E sinceramente, eu penso que nesse dia 15 as pessoas deveriam estar lutando por transporte público de qualidade, por escola pública de qualidade e por hospitais públicos de qualidade (essa mesma classe média se deslumbra quando viaja para a Europa porque o transporte lá funciona e todos juntos e felizes andam de metrô! É chique!) mas aqui, se recusam a pegar o ônibus, não apenas porque é velho ou ruim, mas porque, e principalmente, têm vergonha! Porque pensam erroneamente que ônibus é coisa de ‘pobre’! Enquanto a gente pensar assim, vamos estar cada vez mais estressados no trânsito (porque todo mundo quer carro), vamos estar pagando mais caro os planos de saúde (ao invés de lutar por saúde pública) e vamos continuar pagando escolas caras para os nossos filhos! É isso!


Eu te amo, hoje e sempre! 

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