Por que eu votei na
Dilma?
Não sou muito politizada,
infelizmente! Isso é um grande e grave erro da maioria dos brasileiros...visto
que, como dizem: “se você não gosta de política, vai acabar sendo governado por
quem gosta”! No entanto, me considero uma boa observadora!
Frequentei faculdades e
universidades em três momentos da minha vida, inclusive, o momento atual. No
primeiro momento, entrei em 1993, no governo de Itamar Franco. A UFPE era um
lugar quase esquecido. Só entrava lá filhos de classes mais privilegiadas (não
havia sistema de cotas ainda!). Para alguém digamos ‘pobre’ entrar lá, era
preciso um esforço quase sobre-humano. Ou então, eram aqueles geniozinhos que
existem por aí e que mesmo em condições contrárias e desfavoráveis conseguem
nadar contra a correnteza (são poucos os que têm esse perfil!)
Com isso, quero dizer que
a classe social nas universidades estava solidificada e bem demarcada. Era
classe média, média alta (não sei onde os filhos dos ricões estudam, acho que
em Harvard!) e ponto final. Meus colegas eram como eu. Se via um ou outro mais
‘pobrezinho’, mas era algo que não chegava a incomodar (os que se sentem
incomodados). Estudava Letras.
Ao mesmo tempo, estudei
também na Universidade Católica de Pernambuco, Jornalismo. A Unicap é uma
instituição privada e a mensalidade era das mais caras de Recife. Realmente, só
quem podia pagar estudava lá. Os pouquíssimos alunos de situação econômica
inferior só estudavam lá se conseguissem uma bolsa de estudos. Algo raro e
difícil de acontecer. Mais uma vez, só classe média, média alta. Estudei porque
meus pais podiam pagar.
Acabei não me formando na
época em nenhum dos cursos. Voltei à universidade depois do seu nascimento, em
2001. Estudei Artes Cênicas na UFPE. Enfrentei duas longas greves. Bem no
governo de FHC. Na metade do curso, Lula assumiu seu primeiro mandato. Eu vi
mudanças na universidade. Vi novos prédios, reformas, e até o elevador do
Centro de Artes e Comunicação, começou a funcionar. (Havia esse projeto de
acessibilidade, já que no Centro só tem escadas!) Finalmente me formei em 2006.
Pleno mandato de Lula. No mesmo ano fiz concurso para a Secretaria de Educação
do Distrito Federal. (Muitos concursos passaram a abrir)
Voltei à uma universidade
em 2012. Mandato de Dilma. Inclusive, entrei em um curso que antes não existia.
Cursos tecnológicos começaram a aparecer no mandato de Lula. Designer gráfico,
web designer, gastronomia, moda, designer de interiores, entre outros. O
UNICEUB, centro de ensino universitário em que estudo Gastronomia, está cheio
de alunos do FIES e de outras ajudas governamentais. Eu vejo alunos de todas as
classes sociais, ou pelo menos, não vejo apenas os de classe média, média alta,
como eu via em tempos atrás. Na minha turma, mais de 50% dos alunos estão
estudando graças à esses planos de inclusão nas universidades privadas. Não
estudo em universidade pública mais, mas sei que ela também está abarrotada de
pessoas de ‘baixa renda’.
Assim como você, sempre
fui uma privilegiada! Brasília é uma ilha da fantasia! Não corresponde em nada
ao que acontece na maior parte do território brasileiro! Cresci aqui, em uma
cidade que possui nitidamente uma divisão entre o plano piloto (lugar da classe
média alta) e do ‘entorno’ (lugar onde os ‘pobres’ moravam anteriormente! Agora
isso já está mudando!) mas na verdade, o plano piloto insiste em manter esse
afastamento do restante do ‘mundo’, ou pelo menos, do mundo do entorno!
Você estuda em uma
faculdade particular porque tem quem pague. Meus pais, seus avós, tiveram e
ainda têm condições financeiras favoráveis e privilegiadas! E repito, isso não
representa a maioria da população.
Na época das eleições
alunos meus me perguntaram em quem eu votaria. Não respondi. Primeiro porque
são crianças ainda sem muita consciência crítica e segundo, não tenho o direito
de influenciar desta forma. Usando o meu papel e hierarquia para implantar MEUS
conceitos e MINHAS opiniões. Mas para um aluno eu respondi. E ele, meio que
horrorizado-decepcionado disse: que paia, professora! (paia é tipo ‘nada a
ver’) E eu explique e falei que era também pensando em alunos como ele (que em
outro tempo não tinham oportunidade de entrar em uma faculdade, muito menos,
pública) que eu estava votando. Sim, porque em um breve passado, os alunos de
escola pública já sabiam que seus estudos terminariam no ensino médio (os que
chegavam lá, hoje é obrigatório concluir o ensino médio!)
Peço apenas que você
observe! Observe as coisas ao seu redor! As pessoas, os lugares. Como dizem
também: “o mundo não se resume ao nosso quintal!” Fomos e somos ainda uma
família muito privilegiada! E sinceramente, eu penso que nesse dia 15 as
pessoas deveriam estar lutando por transporte público de qualidade, por escola
pública de qualidade e por hospitais públicos de qualidade (essa mesma classe
média se deslumbra quando viaja para a Europa porque o transporte lá funciona e
todos juntos e felizes andam de metrô! É chique!) mas aqui, se recusam a pegar
o ônibus, não apenas porque é velho ou ruim, mas porque, e principalmente, têm
vergonha! Porque pensam erroneamente que ônibus é coisa de ‘pobre’! Enquanto a
gente pensar assim, vamos estar cada vez mais estressados no trânsito (porque
todo mundo quer carro), vamos estar pagando mais caro os planos de saúde (ao
invés de lutar por saúde pública) e vamos continuar pagando escolas caras para
os nossos filhos! É isso!
Eu te amo, hoje e sempre!
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