segunda-feira, 2 de março de 2015

Darckson Lira, o discípulo

Aqui está um texto desse grande pastor-teólogo-filósofo que escrevia corajosamente e andava contrariamente ao que hoje se denomina "cristianismo":

"SERIA JESUS, CRISTÃO?

Jesus deixa clara a natureza de seu Reino quando pronuncia as seguintes palavras:
“Não vem o Reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o Reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20,21).
A mão humana que a tudo macula e deforma, logo resolveu identificar o Reino dando-lhe aparências humanas, declarando que “ele está aqui e acolá, ou, está aqui e não está acolá”.
Os homens não aceitam que o individuo vá até Deus, sem que passe por eles e por suas Instituições.
É claro, às vezes até bem intencionados (eu diria raramente me soa melhor), pois na maioria dos casos o que move a toda essa estruturação temporal das “igrejas” – e que colocou a visão livre de Jesus que deveria ser por excelência o verdadeiro sentido de uma religião universal – (agora engaiolada, fabricada, industrializada e transformada em mais uma “ferramenta de dominação e manipulação”) é o desejo de ter o controle da sociedade.
A Política controla o exterior, mas a Religião pretende controlar interiormente, como bem falava Michel Foucault, por meio de práticas históricas como o “Poder Confessional” (vão das Clínicas Psiquiátricas às Igrejas) e atualmente por outros meios não menos criativos.
O Mestre Jesus dizia que o “Semeador saiu a semear” (Mateus 13), ou seja, a idéia mais ampla possível do Reino sendo vivido e promovido de maneira absolutamente natural: sementes são lançadas no coração das pessoas, e em cada um terá seu efeito e uma resposta diferente, porque nem todo solo é igual.
O “Reino é semelhante a um grão de mostarda” lançado no campo (Mateus 13:31,32) aponta para uma ação externa, lá fora, na vida vivida aos olhos da sociedade, mas também é “Como uma mulher que toma farinha e fermento e vai fazer um bolo em sua casa” (Mateus 13:33) aqui sinaliza para a ação na família, na vida privada. Mais adiante é um “Tesouro oculto que um homem teve a alegria de encontrar” (Mateus 13:44), que é o valor e ação individual da fé, etc.
Em todo o pensar, falar e agir de Jesus nos deparamos com uma percepção e intenção diametralmente oposta ao que no futuro os homens “estruturariam” em Seu Nome, e chamariam de “sua igreja”!
Repito que tentaram dar cada vez mais aparência ao Reino, terminando por colocar a “suposta religião de Jesus”, lado a lado com as demais no “Bric a Brac” da multiforme religiosidade encontrada no mundo.
Vou recordar-lhes outro evento, o da “purificação do templo” no qual Jesus expulsou os cambistas, sendo questionado então pelos adversários religiosos sobre, porque e “com que autoridade fazia aquilo”?
“Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário e em três dias o reconstruirei.
Replicaram os judeus: em quarenta e seis anos foi edificado este santuário e tu em três dias o levantarás?
Ele porém, se referia ao Santuário do seu Corpo”. (João capítulo 2 versos 13 a 22).
Essa era a idéia!
As pessoas eram chamadas a “nascer de novo” para “ver e entrar no Reino” e não se dava por meio ou para uma organização religiosa! (João capítulo 3)
Perceba que tudo é muito sobrenatural em sua origem, mas perfeitamente natural na forma que se manifesta ou apresenta: é um semeador saindo sob o sol, com seus pés bem calcados na terra, coração cheio de esperança, lançando sementes, ou um homem lançando sua rede ao mar, uma mulher fazendo bolo – Jesus usa parábolas com sentidos metafóricos – a fim de ilustrar a realidade do Reino que veio inaugurar.
Ele chama as pessoas para “nascer”; tem coisa mais natural e ao mesmo tempo mais sobrenatural?
As tais aceitam a participação numa fraternidade universal, numa imensa família, que chama a Deus de Pai – Nosso.
Jesus veio fazer uma família!
Por isso no principio aquela Igreja não tinha seu foco em templos, métodos ou estruturas humanas, eles viviam a fé como se vive a vida; de forma natural, “partindo o pão de casa em casa”.
O dinheiro tinha outra prioridade: não se destinava à construção de catedrais, nem à compra de emissoras (quem lê entenda), nem de jatinhos.
“E depositavam seus bens aos pés dos apóstolos; então se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade” (Atos 4:32-35).
Daí o texto diz: “Não havia nenhum necessitado entre eles”!
A essas alturas a gente se imagina falando de outra religião ou outro mundo não é? Claro, porque isso não tem absolutamente nada a ver com a ênfase teológica tampouco com o ensino e prática do chamado Cristianismo que vivemos nos dias atuais...
Olha só que loucura Jesus vai dizer: vamos rir juntos (ou chorar)?
“Vendei os vossos bens e daí esmolas. Fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouros inextinguíveis no céu, onde não chega o ladrão, nem a traça consome” (Lucas 12:33,34).
Então a que Ele veio ao mundo?
Até o sumo sacerdote fariseu Caifás, sabia por intuição profética (não sabia que sabia) “...que Jesus estava para morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” ( João 11:51,52).
A “Igreja” de Jesus, não tem denominação terrena, nem estrutura organizacional humana: ela não tem visível aparência!
Então na verdade, todas essas nossas construções religiosas montadas, conspiram contra essa visão maior do Reino que desconhece barreiras e que demanda muito mais de seus súditos.
O que temos vivido?
O povo desta Igreja não vai naquela, um acusa outro e o outro revida, aquela luta contra esta outra pelo disputadíssimo mercado religioso, e TODAS essas aparências não têm nenhuma relação com a natureza e princípios do Reino que Jesus veio trazer.
São guetos e campos de concentração onde almas capturadas vão ser manipuladas pelos interesses dos “donos do poder religioso” que vão colonizar a subjetividade dos seguidores.
É lógico que o discurso de um religioso que deseja conservar seu poder e alimentar sua estrutura de dominação, sempre será no sentido de colocar as pessoas cada vez em mais dependência dele e de seu sistema.
Jesus apostou na liberdade humana, e isso também nas relações com Deus, onde jamais devem os religiosos usar as armas do terror ou manipulação pelos artifícios que a religião dispõe, para alcançar seus fins.
Infelizmente o poder da tradição é quase irresistível sobre nós.
E por falta de conhecimento, muitos seguem “após-tolos”, e passam a se auto-enganar de que estão seguindo o “cristianismo” – ora, nem o Cristianismo em sua versão antiga estamos conseguindo seguir, imagine o passo além que temos de dar do tamanho do infinito, SE quisermos sair do “Cristianismo” e ser discípulos de Cristo!?
Jesus precisa ser nossa Igreja, e Deus a nossa pátria.
Isso significa habitar no seu Corpo, o que é bem diferente da postura religiosa que a Cristandade tem adotado."



Pastor Darckson Lira

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