segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO GÊNERO FEMININO


A indignação me faz escrever, por isso, gosto de compartilhar pensamentos, questionamentos e reflexões acerca de mim mesma, do outro e da vida.
Compartilho com vocês neste momento uma inquietante reflexão sobre a mulher, este gênero tão mal compreendido e interpretado (por homens) e pelas próprias mulheres.
Ao participar de um curso a respeito do pensamento de Simone de Beauvoir deparei-me com questões desconcertantes sobre o devido tema.

Primeiramente, ainda na infância a menina e o menino correm felizes e satisfeitos nas ruas, brincam à vontade e são chamados apenas de crianças. Não há ainda neste momento o corte de gêneros. (os tempos atuais, infelizmente, têm modificado esta homogeneidade, e as meninas estão se tornando cada vez mais “mocinhas” antes do tempo) Mas nem sempre foi assim, e corríamos alegres e saltitantes pela vida. Eis que surgem então, as primeiras “modificações” nos corpos de ambos. A menina passa a ser, por assim dizer, “adestrada” a se tornar fêmea. Não são mais permitidos shorts, faz-se obrigatório o uso de blusas (uma mocinha não pode andar sem blusa por aí), saias, postura para sentar, comer, andar. Nos tornamos “mocinhas”. O incômodo menstrual é quase tratado como uma doença, temos vergonha. Compramos absorventes nas farmácias quase “escondidas”. Não nos é permitido mais subir em árvores. E nem brincar “naqueles períodos”.

Ainda com relação ao início da puberdade (menstruação), somos ensinadas e falsamente iludidas a um “privilégio” sobre os homens: dizem-nos “agora és mocinha, podes ter um bebê”. Mas a menina tão logo se desilude (com a menstruação), pois percebe que não adquiriu nenhum privilégio e... a vida continua. Ela reflete: “assim como o pênis tira do contexto social seu valor privilegiado, é o contexto social que faz da menstruação uma maldição”.

Passamos então a sermos “preparadas” para o maior advento das nossas vidas: o casamento, para assumirmos assim, num breve futuro outro igual advento: a maternidade. E para tal torna-se necessário que aprendamos a agradar esse ser “superior” chamado homem! Afinal, foi para ele que fomos criadas! O que ela nos diz a respeito do casamento: “O casamento não é apenas uma carreira honrosa e menos cansativa do que muitas outras: só ele permite à mulher atingir a sua dignidade social integral e realizar-se sexualmente como amante e mãe”. Não quero afirmar por meio destas considerações que sou contra o casamento, de maneira alguma, mas não pode ele ser o fim pelo qual todas nós nascemos. Não podemos desta forma ser “sujeito” da nossa vida se permanecemos na condição de “objeto”.

Simone de Beauvoir faz certas considerações sobre o que acontece com o menino e com a menina. Em relação aos meninos ela afirma “querem (os adultos) que ele seja um homenzinho, é libertando-se deles (dos adultos) que ele conquista o sufrágio destes. Agrada se não demonstra que procura agradar”. Já com as meninas acontece exatamente o contrário “há um conflito entre sua existência autônoma e seu ‘ser outro’. Ensinam-lhe que para agradar é preciso procurar agradar, fazer-se objeto, ela deve, portanto, renunciar a sua autonomia”.


Mais adiante ela prossegue “é condição penosa saber-se passiva e dependente na idade da esperança e da ambição, na idade em que se exalta a vontade de viver e de conseguir um lugar na terra; é nessa idade conquistadora que a mulher aprende que nenhuma conquista lhe é permitida, que deve renegar-se, que seu futuro depende do bel-prazer dos homens.


Não sei quanto a vocês, mulheres, mas eu me encontrei por diversas vezes perguntando a mim mesma sobre meu lugar no mundo, sobre até mesmo que profissão seguir. Parecia-me sempre que me respondiam: tanto faz! Você, na verdade, só precisa “segurar as pontas” até que o seu príncipe apareça. Não quero aqui culpar, ou justificar ninguém a respeito das minhas escolhas e mesmo da ausência delas.

O que deve ser levado em consideração é que cresci imaginando que um “homem” no fim das contas, me salvaria, que não seria preciso me “esforçar” tanto, pra quê? Afinal, são eles os provedores, não é mesmo? Mas o que acontece nos dias de hoje? Quantas mulheres, mães solteiras, divorciadas, e até mesmo entre as casadas, precisam sustentar sua casa, filhos, sonhos e ambições? Mais do que nunca antes, a mulher atual precisa “matar um e algumas vezes dois leões por dia”. Me pergunto como, se não nos foram dadas as devidas ferramentas e tampouco nos ensinado a caçar.

E de um jeito inseguro, desajeitado vamos seguindo nossas frágeis vidas. Não porque o somos, mas porque nos foram extraídas toda a agressividade, a ambição, a força, necessárias à sobrevivência.

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