quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A dor do outro

Ontem tive uma experiência que poderia dizer ter sido negativa. Mas prefiro transformá-la numa reflexão. Acordei com uma tosse forte, febre e dor de garganta. Nesse momento de alerta geral em relação à gripe H1N1, fui recomendadamente ao hospital. Lá chegando, já percebi a quantidade de pessoas com problema semelhante ao meu, ao mesmo passo que percebi o grande despreparo, não apenas dos médicos, mas de toda uma equipe hospitalar.

No balcão distribuíam máscaras para quem quisesse. Pedi uma pra mim por estar tossindo bastante. E fiquei aguardando...aguardando...demorou pelos menos DUAS horas até entrar no consultório médico. Mas antes disso vi algo que não gostaria de ter visto. Uma senhora desfalecida sendo carregada desajeitadamente pelo médico e funcionários para uma sala que ficava perto de onde estávamos, perto da sala de espera, e sua filha, naturalmente desesperada, gritando pelos corredores. Naquele momento não havia nenhum funcionário, recepcionista, enfermeiro, já que médico não havia mesmo, que desse uma assistência à acompanhante emocionalmente abalada. Não aguentei, levantei-me e fui até o balcão de atendimento e questionei sobre o fato, se não havia ninguém que pudesse ajudá-la, oferecer ao menos um copo de água com açúcar, ora bolas! O rapazinho da recepção levantou-se e procurou uma forma de dar alguma assistência, mas logo voltou ao seu posto inicial. Pude perceber que depois de algum tempo, finalmente, deram um pouco de água à mulher e a puseram numa sala. Menos mal.

Entrava médico na sala onde levaram a senhora, saía médico, até que pude ver que carregavam a “maletinha”. Aquela com o ressussitador. Fiquei nervosa! Na minha curiosidade de observadora não pude deixar de me perguntar se aquela senhora havia morrido. Chamaram meu nome finalmente, e entrei na sala do doutor. Lá dentro veio a confirmação, uma médica, nova ainda, e pelas suas próprias palavras, inexperiente, conversou rapidamente com o médico que me atendia, dizendo não saber como proceder em caso de óbito, pois era a primeira vez que vivia aquela situação.

Confesso a vocês que naquele instante lágrimas começaram a cair do meu rosto, eu a vi, vi sua filha, não estou acostumada a lidar com a morte, assim tão subitamente, já estava abalada por estar adoecida, que é algo que nos deixa fragilizados, estava sozinha, sem a minha mãe, com dor, com fome, cansada de tossir e ver aquela cena me deixou incrivelmente sensibilizada. Por pensar, egoísticamente, que poderia acontecer comigo também, pode ser. Mas além do meu egoísmo, senti medo da morte e compaixão pela sua filha e família por aquela perda.

Bom, recuperada das lágrimas, continuei minha peregrinação rumo ao diagnóstico. Fui então, para sala de raio-x. Mas, nada lá era tão simples assim. Tive que pegar uma nova senha e lá foram mais DUAS horas para tirar o raio-x. Teve o funcionário que passou outras pessoas na minha frente, quando já estava perdendo o limite da paciência e da dor, fui questionar a demora. O tal funcionário disse que havia me chamado há uma hora atrás. Tive que falar umas verdades pra ele. Passado mais esse stress. Espero mais MEIA hora para ficar pronto o exame e retorno ao médico que me atendeu primeiro. Por conta da demora, ele já não se encontrava mais no hospital, só eu, infelizmente. Fui atendida por um outro qualquer, nervoso ele, grosseiro e estressado. Saí com mais lágrimas mas grata por estar indo para casa...

No fim das contas...relaxei. Ora, se não estava com a gripe A, devido toda aquela demora e despreparo do hospital, se, por um acaso, havia alguém com esse diagnóstico, todos foram infectados, inclusive os médicos!

Um comentário:

  1. Minha nossa Mé, que coisa horrível. è uma triste realidade essa nossa, a do descaso com o ser humano, principalmente quando estes mais necessitam de amparo, atenção, cuidado. Lamento pela sua experiência, ainda mais aí sozinha. Espero que eestejas bem e que nada de ruim lhe aconteça mais. Beijo grande!!!

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